Otelo Saraiva de Carvalho afirmava numa recente entrevista que «José Afonso era extremamente FELIZ na Galiza e AMAVA com paixão a Galiza» e proclamou «o Zeca, símbolo da UNIÃO do povo galego e do povo português».
Se a questão irlandesa tem oito ou nove séculos de história sem a ilha estar REUNIFICADA, INDEPENDENTE E SOBERANA todavia hoje, a questão galega, galego-portuguesa ou da Galiza e Portugal, tem mais, sem Acordos de Stormont mas com Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que foi alavanca determinante para conseguir a Autodeterminação e Independência do Timor Leste.
Para comemorar a Revolução dos Cravos em este 25 de Abril tentaremos resgatar da História aquilo que, na nossa opinião, tem a ver com a UNIÃO POLÍTICA dos povos galego e português. Este ano 2010 está a se comemorar em Portugal o centenário da República sem que o FEDERALISMO, inseparável do REPUBLICANISMO E SOCIALISMO, emerja e quando o faz, minimiza-se ou singelamente, nega-se. Também este 27 de Março cumpriram-se duzentos anos do nascimento de Alexandre Herculano, combatente liberal, historiador que analisa e relata os factos sob um ponto de vista científico, que publicou na sua História de Portugal em 1846 «Portugal, nascido (...) em um ângulo da Galiza». Álvaro Cunhal referenciando-o frisava que «a história de Portugal do século XIX está por escrever» e Hugo Janeiro publicava em www.pcp.pt que «a falta de conhecimento sobre Alexandre Herculano e o período histórico que abarca todo o século XIX em Portugal PARECE SER HOJE DOMINANTE».
Carlos Marx escreveu em 1854 que «é verdadeiramente difícil dar com as causas dos desenvolvimentos (...)» [da luta das classes na Península] e publica a Constituição da República Federal Ibérica que um grupo de republicanos distribuiu em Agosto desse ano por Madrid cujo artigo primeiro diz: «Espanha, as suas Ilhas e Portugal se unirão para formar a República Federal Ibérica».
Promulgar a Constituição de Cádis em 19 de Março de 1812 não teria sido possível se O POVO GALEGO ARMADO ORGANIZADO EM GUERIILHAS não houvesse derrotado e expulsado do território galego os exércitos franceses de Napoleão [a «Reconquista» da que Fraga não quer falar] tornando a Galiza, «a ÚNICA região não ocupada pelos franceses». À revolta de A Crunha de Maio de 1.808 segue-se a do Porto [Braga, Bragança, Viana, Guimarães] em 6 de Junho ficando a finais de mês, Portugal livre de franceses que tornarão a ocupá-lo.
A FACTOS GROSSOS, PALAVRAS GROSSAS: a Galiza determina, o povo galego determina todo o acontecido até 24 de Setembro de 1810 em que se reuniram Cortes extraordinárias na Ilha de Leão (Cádis); na primeira reunião das Cortes só assistiram as províncias mais democráticas: Catalunha e a Galiza. A Galiza, o povo galego determina portanto a Constituição de Cádis que aboliu o Tribunal da Suprema Inquisição, a escravatura e o seu tráfico.
A Galiza, o povo galego, determinou em termos políticos e militares uma Constituição por cuja implementação lutaram durante o século XIX os movimentos revolucionários na Península e nas colónias: em termos militares porque a Galiza uma vez que derrota e expulsa os franceses continua a luta contra eles fora do seu território mesmo em Cádis, defendida por artilheiros galegos; o efeito encorajador das vitórias galegas sobre os franceses não tem qualquer limite. Em termos políticos porque a Junta Suprema da Galiza criada imediatamente depois da revolta de A Crunha de Maio de 1808 para além de tomar medidas revolucionárias assinou um Tratado de Federação Perdurável entre a Galiza e Castela em que se pretendia FEDERAR todos os povos penisulares uma vez livres dos franceses. O território da Galiza no Tratado incluía o Norte de Portugal, Oviedo e Leão.
A luta da Galiza, o combate vitorioso do povo galego determinou uma Constituição ESTIGMATIZADA pelas europeias testas coroadas reunidas em Verona como a invenção MAIS INCENDIÁRIA do espírito jacobino; uma Constituição que o próprio Fernando VII tachou de IMITAÇÃO da Constituição francesa de 1791; Constituição que Porlier, insurrecto, proclama em A Crunha em 1815.
O percorrido por Andaluzia do CARBONÁRIO Riego encabeçando 1500, a proclamarem a Constituição, desde 27 de Janeiro até ao 11 de Março de 1820, com insurreição na Galiza, força Fernando VII a assinar a dita Constituição em 9 de Março, convocar Cortes, proclamar a Constituição, etc. para imediatamente depois, em 20 de Agosto, o Porto sublevado, Lisboa sublevada um mês mais tarde, Portugal todo proclamar a Constituição de Cádis em 15 de Novembro de 1820 [o Vintismo]. A Convenção secreta entre Luis XVIII e Fernando VII acaba a Revolução com os «Cem Mil Filhos de São Luís» e o Miguelismo em 1823, Revolução que torna a abrochar na Península em 1836 e contínua abrochando uma e outra vez abafada sob o mesmo modelo de secreta convenção.
No mesmo ano em que Alexandre Herculano publica a sua História de Portugal que inspira a primeira da Galiza do ferrolano Benito Vicetto, em 15 de Abril de 1846, ao mesmo tempo que em Compostela, num contexto insurrecional galego, se constituía a Junta Superior de Governo da Galiza, presidida por Pio Rodriguez e como secretário Antolim Faraldo, estalava em Vieira do Minho a Revolta portuguesa conhecida como Maria da Fonte que empata com a Patuleia que alastra Portugal todo. A Junta Superior de Governo da Galiza acaba com os fuzilamentos de Carral e no refúgio em Portugal dos que lograram fugir à morte.
Durante toda a primeira metade do século XIX o relacionamento político-militar-diplomático galego-português é CLAMOROSO e silenciado/censurado a dia de hoje; acontece o mesmo com a segunda metade que finaliza para inaugurar a primeira metade do século XX com nada mais e nada menos do que a constituição em 1901, em Tui, da UNIÃO GALAICO PORTUGUESA, UNIÃO PROLETÁRIA, que continua com encontros em Viana do Castelo em 1902 e em Braga, em 1903 ao que assistem quarenta e sete sindicatos de Portugal e trinta da Galiza sem que ninguém se empenhe em resgatar do SILENCIAMENTO E A CENSURA um facto tão notável e porventura ÚNICO como a UNIÃO PROLETÁRIA GALEGO-PORTUGUESA, vinte anos antes do nascimento dos partidos comunistas no mundo, e num contexto de INSURREIÇÃO OPERÁRIA galego-portuguesa que tem como resultado a derrocada da monarquia em Portugal e a proclamação da CARBONÁRIA República portuguesa que, aliás, inaugura na Galiza o movimento Assambleísta Agrário, as Assembleias Nacionalistas (...) INSPIRADAS, explicitamente inspiradas, na UNIÃO NACIONAL galego-portuguesa, inspiração sempre abafada em lume, ferro e sangue, em genocídio e que uma e outra vez abrocha como as rosas das covas nas curvas da estrada do Zeca Afonso sem que, e eis o nosso contributo, os corações e as mentes da dirigência dita nacionalista faça mais do que adiar quando não combater o que inevitavelmente chegará, a República Federativa da Galiza e Portugal no seio da União de Repúblicas Socialistas Europeias e na União do Proletariado, os Povos e as Nações do Mundo no
Socialismo.
Na Galiza, Quinta-Feira, 22 de Abril de 2010
COMISSÃO PARA A REUNIFICAÇÃO NACIONAL DA GALIZA E PORTUGAL