Hoje venho de ver na televisom da Galiza umha nova na que se fala de miles de truitas e peixes mortos neste rio ao seu passo por Ronfe, como possível consequência da fábrica de queijos de Sárria e de duas depuradoras da mesma locaidade.
O rio da minha infância, que viu nascer ao meu pai com augas cristalinas sobre um mosaico de brilhantes cantos rodados, abeiro de caranguejos e truitas, é hoje umha fugaz lembrança do que noutrora foi. Povoado de inumeráveis moinhos, fervenças, ínsuas de exuberante vegetaçom, o Oríbio - chamado rio Sárria ao passo por esta vila de peregrinos - sofreu por volta do ano 2006 as obras dumha estaçom hisdrográfica na Agreimunde, minha localidade natal. Ao encorar com barreiras de cimento o nível da auga aumentou consideravelmente com o que se silenciaram os pulos da corrente a bater nas pedras. O velho caminho povoado de árvores, silveiras e gestas mudou por umha grotesca língua de formigom que atrai aos autos de muitos curiosos e curiosas. Umha arquitectura de escavadoras e outros monstros mecánicos encaminhou o rio entre gigantescos blocos de granito. Mas os ultrajes à paisagem pátria nom ficaram ai, foi apenas umha fase mais no deterioro da ecologia galega. A minha geraçom achou a este rio sem caranguejos, com montes de escuma branca que tomam o voo à saída das fervenças e cumha ampla colecçom de objectos de lixo que se acumulam atrás das oucas nos remansos, mas o processo de contaminaçom avança a níveis alarmantes, feito que já retratei num dos contos da minha editio princeps, um País oculto pelas silveiras.
Estes últimos três anos o rio está a vir periodicamente tintado por umha estranha cor cinzenta que durante horas impossibilita a codificada clarividência habitual do rio. Na altura, durante a primeira manifestaçom dumha paisagem fluvial que podia ser obra dum pintor daltónico, telefonei para Daniel Vispo. Juntos procuramos a causa deste artifício cromático por umha difícil geografia de silveiras, balados, caminhos e pastos. Após várias pesquisas, tropeçamos com um enérgico torrente branco que ao discorrer entre verdes prados lembrou ao debuxo dos cartons de leite da firma Rio. Era este corgo o responsável dum lenço de pintura abstracta, o reponsável invicto dum grave delito ecológico. Mas qual era a sua procedência? Hoje venho de ver na televisom da Galiza umha nova na que se fala de miles de truitas e peixes mortos neste rio ao seu passo por Ronfe, como possível consequência da fábrica de queijos de Sárria e de duas depuradoras da mesma locaidade.